quinta-feira, outubro 26, 2006

A saúde é intocável

Paulo Sant'ana

Um amigo meu, quase classe média alta, telefona-me aflito: "Sant'Ana, o meu casamento está se esfarelando. Minha mulher só consegue ser sensual, possuída de langor, repleta de voluptuosidade e, o que é mais importante, submetida inteiramente a mim, durante o sexo. Durante todas as horas e os minutos do restante da semana, ela se mostra irritada, de mau humor, irascível até, e o que é mais importante, com ares de dominadora e absolutamente senhora de si, independente de mim, com pretensões de liderança no lar e soberania nos negócios e projetos nossos de todo o tipo, desde os menores até os sonhos mais ousados. Ou seja, no meu lar, minha mulher virou uma gata na cama e uma gerente plenipotenciária quando está de pé ou agindo na direção do carro, parecendo que estende esse seu domínio sobre a situação no seu trabalho, onde é profissional liberal".


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Prossegue o meu amigo a narrar o seu infortúnio: "Tu tens total razão, Sant'Ana, quando aconselhas os casais a morarem em casas separadas. Seria outra coisa o meu casamento se morássemos em casas diferentes. Fico imaginando os nossos encontros, seriam verdadeiras solenidades sexuais. Depois nos despediríamos exaustos do amor e iríamos cada um para um lado, já sonhando com o encontro seguinte, na semana seguinte. Seria um paraíso, uma lua-de-mel por semana, vestiríamos nossas roupas e durante os seis dias seguintes ela ficaria chateando os outros com seu temperamento difícil e intragável, e eu livre dessa sua borra comportamental durante seis dias. E ela fiel a seu temperamento de ranzinza e dominadora, mas sobre os outros, não contra mim. Tu tens razão, Sant'Ana, a pior parte da mulher é a esposa. A menos que a gente more em casas separadas. Esse é o segredo da felicidade conjugal. E meu casamento está terminando porque minha mulher não concorda em morar em casa separada da minha. Ela diz que não vai renunciar à melhor parte do casamento, que é exercer o seu domínio férreo e chato sobre mim quando não está na cama. Ela se recusa a exercitar o casamento somente na cama, ela alega que isso é entregar de graça para mim o domínio completo do casal. Estou apenas te comunicando que meu casamento chegou ao fim. Se por acaso algum dia eu me atrever a arranjar outra mulher, farei contrato assinado de morar em casas separadas".

Jornal Zero Hora, 26/10/2006

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